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Clássico, tradicional, eclético: Arquitetura brasileira no longo século XIX |
Este projeto de pesquisa versa sobre a produção arquitetônica e urbanística de 1780 a 1930, com ênfase na formação dos campos de conhecimento brasileiros compreendidos em suas relações internacionais, especialmente com Portugal. O fio condutor da pesquisa é a tensão entre a continuidade das práticas vernáculas herdadas da tradição portuguesa e a difusão de conhecimentos eruditos e cosmopolitas.
O recorte cronológico adotado se subdivide em dois ciclos principais. O primeiro ciclo abarca a consolidação de uma tradição arquitetônica e urbanística luso-brasileira até a metade do século XIX. Nesse período, a adoção generalizada de conceitos teóricos neoclássicos se insere, sem maiores conflitos, num arcabouço tecnológico vernáculo. O período que vai da segunda metade do século XIX até a Grande Depressão apresenta uma difusão mundial dos modelos formais e teóricos da arte e da arquitetura europeias, mas também, reciprocamente, uma crise das tradições e dos paradigmas até então dominantes no universo artístico ocidental. Insere-se, em sua maior parcela, na etapa do longo século XIX caracterizada pelo historiador britânico Eric Hobsbawm (1917–2012) como a era do imperialismo (1875–1914).
Assume-se como problema central desta pesquisa, destarte, a necessidade de resgate do panorama teórico do ecletismo, evidenciando a diversidade de pensamento nos próprios termos dos profissionais, críticos e obras do longo século XIX. Para tanto, propõe-se, no lugar da dicotomia convencional historicismo–modernismo, avalizar outras caracterizações mais granulares. Em particular, defende-se a viabilidade interpretativa de um gradiente erudito classicismo–nativismo articulado em triangulação com a persistência de práticas tradicionais vernáculas. Essa perspectiva respeita as particularidades e as clivagens intrínsecas à formação dos discursos teóricos durante o longo século XIX, bem como a interação desse universo erudito com a realidade tecnológica e social das práticas construtivas.
Esse quadro de leitura é empregado na demonstração da cultura crítica do neoclassicismo e do ecletismo luso-brasileiros, tendo em vista suas especificidades quanto à formulação de um discurso nacionalista às margens tanto de uma cultura erudita cosmopolita quanto de um corpo de conhecimentos técnicos amplamente difundido enquanto práticas popularizadas. De fato, por clássico entende-se, na formulação de Louis Hautecœur (1884–1973), uma ideologia intelectualizada que transcende circunstâncias políticas nacionais, ao passo que o nativismo, fundamento ideológico e literário do tradicionalismo arquitetônico, erige o circunstancial e o local em fator determinante das práticas sociais.
Por trás das formulações discursivas eruditas, no entanto, a efetiva constituição dos tecidos urbanos e edificados no período 1780–1930 é essencialmente determinada pela persistência e lenta transformação de práticas vernáculas e de tecnologias tradicionais. Apesar de escassamente documentada, essa persistência é o fulcro tradicional ao qual se referem os discursos tradicionalistas, sobretudo na segunda metade do nosso recorte cronológico. Nesse âmbito, os debates políticos e sociais atinentes ao nacionalismo e ao nativismo, para além do campo estrito da profissão arquitetônica, fazem naturalmente parte do corpo documental vinculado ao tema. Em que pese a relevância de eventuais documentos textuais ou gráficos inéditos, o material publicado e as obras construídas apresentam maior relevância por comporem o contexto de discussões verdadeiramente públicas.
Classicismo, tradicionalismo, ecletismo (c) 2020 by Pedro P. Palazzo
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